sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Só se morre no fim

Sim, há muito em mim, mesmo que brote dos lábios frios de outono, em que me chove a vida, ainda há muito. E não saberia dizer diferente, porque aprendi a soluçar quando nasci e desde então sigo assim, como Macabéa, que pede desculpas por existir. Sim, há muito em mim, porque não sei ser só. Não sei ser só uma. Ora sou força, vontade, coragem, ora me dói a dor de sentir pena de mim. Mas passa, passa logo e rápido e não sobra muito disso tudo. Mas, sim, há muito em mim. Porque sou feita de exclusões, de ausências, e assim, há muito em todos nós. Sim, há muito em mim porque sou você também. Como neném que chora só por não saber falar. E assim, segue. Vou seguindo meu caminho, e em breve estarei tão perto que mal conseguirei enxergar as novas cores do pecado, mesmo porque não há pecado. Sejamos, então eu e você, num risco eterno de pecar e ser perdoado, até que um dia, voltemos ao começo. Sim, há muito em mim e eu te desafio a vim aqui acabar com tudo isso. Sou eu e um milhão de vezes a minha multiplicação. Sim, sim, sim, meu corpo agora fica em êxtase, como se fosse impossível parar de escrever. É mais forte do que minha respiração. Eu travo, prendo e mesmo assim respiro. Não, sobre escrever não há nada que eu possa fazer. As palavras veem e me consomem, e vão brotando dos meus dedos como se vivas fossem. Sim, há muito em mim, e a canção que eu fiz acabou... Sim há muito em mim, e acho que eu morri. Porque só se morre assim, no fim.