sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Certas coisas

Meta linguagem
Em outra metade de língua,
Em outra linguagem de meta
Ou metáfora de língua de fora.

Seja concreto ou reto
Em espaço oco ou pouco
Por se saber louco ou toco.

Não me faça verbo ou credo
Só por não estar dentro, no centro, de mim.

O mistério denso ou lenço
De chorar migalhas ou tralhas
Não me apetece ou tece
O trançar da trança, mas lança, meu olhar ao seu.

Seja pedaço fácil ou aço
De saber bolero ou eco
De estar fugaz ou ás
Mas saber criar poema ou lema
De certas coisas que não cabem em mim,
Fim.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

domingo, 31 de agosto de 2014

Olfato turbulento

São os cheiros que me atraem. Cheiro de mar, cheiro de coentro, cheiro de azul. São os cheiros que atraem meus instintos e meus olhares, e meus pudores, e minhas taras. Cheiro de suor depois de caminhadas, ou nos lençóis úmidos. São os cheiros maduros de fruta, ou de gente. Cheiro de banho e de rosa de tango. O cheiro do alho e cebola em panela quente, ou grama cortada ainda agora. Cheiro de sono de domingo, ou de bebê. Cheiro de vinho derramado em tecido antigo ou de infância encontrada no tempo. São os cheiros que me atraem, que me distraem e que me traem. São sempre os cheiros...

sábado, 17 de agosto de 2013

Goles de vento

Existem algumas palavras latejando em meus artelhos, e o que faço eu? No momento fujo, porque em mim há um ritmo descontrolado do tempo. Fujo e vou engolindo os dias que vejo pela frente, numa sede de anteontem. Mas tomar os dias aos goles não mata sede. É como beber a areia de um deserto cru. Minha sede é de outra vida, outro líquido, outra garganta. É uma sede de muitos, mas em mim só desce ao esôfago um gole por vez. Eu queria muitos, todos, a imensidão e multidão de todos os goles. Como se fosse possível beber o mar em gole único. Mesmo que saiba que beber não me alimenta, mas me engrossa os verbos e me dilata os versos. Existem em mim palavras que saltam dos artelhos e me comprometem e me delatam. Deixá-las escapar alivia minha sede. Então, agora tenho um dilema, permitir que cada uma escape e me sacuda a vida ou permanecer em sede aos goles de vento? Existem em mim palavras que cortam o ar e assim, saem de mim em voo feroz, porque escrever sempre é mais forte do que eu.

Sede

Beber não me alimenta, mas me engrossa os verbos e me dilata os versos. Porque em cada gole que escorre em minha orofaringe há um tanto de vida deformada em líquido. Amorfo, eu diria. E esse suor da vida me rasga o esôfago e me obriga a ser além.