sábado, 17 de agosto de 2013

Goles de vento

Existem algumas palavras latejando em meus artelhos, e o que faço eu? No momento fujo, porque em mim há um ritmo descontrolado do tempo. Fujo e vou engolindo os dias que vejo pela frente, numa sede de anteontem. Mas tomar os dias aos goles não mata sede. É como beber a areia de um deserto cru. Minha sede é de outra vida, outro líquido, outra garganta. É uma sede de muitos, mas em mim só desce ao esôfago um gole por vez. Eu queria muitos, todos, a imensidão e multidão de todos os goles. Como se fosse possível beber o mar em gole único. Mesmo que saiba que beber não me alimenta, mas me engrossa os verbos e me dilata os versos. Existem em mim palavras que saltam dos artelhos e me comprometem e me delatam. Deixá-las escapar alivia minha sede. Então, agora tenho um dilema, permitir que cada uma escape e me sacuda a vida ou permanecer em sede aos goles de vento? Existem em mim palavras que cortam o ar e assim, saem de mim em voo feroz, porque escrever sempre é mais forte do que eu.

Sede

Beber não me alimenta, mas me engrossa os verbos e me dilata os versos. Porque em cada gole que escorre em minha orofaringe há um tanto de vida deformada em líquido. Amorfo, eu diria. E esse suor da vida me rasga o esôfago e me obriga a ser além.