sexta-feira, 17 de junho de 2011

Óbvio

Escrever sempre foi mais difícil do que entender. Mas, hoje, os dedos parecem engessados, ocupados em escrever apenas o óbvio, apenas aquilo que já foi lido. Marchando nos mesmos trilhos e sobre as mesmas palavras. O texto fica doído, ansioso pelo fim. É preciso chegar logo ao fim para acabar com essa angústia, esse desespero. Se fosse possível engolir cada palavra ao invés de vomitá-las numa vigorosa ânsia, seria mais fácil. Não sei, talvez seja assim porque sobre desejo mas falte talento em meus artelhos. O fim parece um fôlego para o último suspiro. Escrever me dói, mas não escrever me mata. É o corte necessário para a sangria da mente. É estabelecer uma conexão com o que é visceral. É deixar claro ao olhar o que acontece fora de seu controle. Porque escrever é enxergar o óbvio.

Um comentário:

Leonardo A. disse...

Interessante a clareza com que você expressa o que sente. Gostei deste texto em particular por conta do fato de que comigo ocorre exatamente o contrário. Escrever é menos difícil que entender, e é justamente para tentar entender que escreve. Um conflito entre "Logos" e "Eros", diz o terapeuta que me acompanha. Ele disse que eu deveria tentar ser menos racional e mais emocional. Esse é um dos motivos pelos quais eu estou tentando escrever qualquer coisa cuja característica principal não seja a objetividade. Uma confissão: seus textos me servem de inspiração. ^^